Medicamentos para inibir a transmissão mãe-filho de HIV

Jovens fantasiados de camisinha fazem mobilização para a prevenção ao HIV e outras DST



 Os medicamentos que previnem a transmissão do HIV da mãe para o filho são muito eficientes quando usados da forma apropriada – ou seja, tomados no momento certo da gestação e na dose correta, pela mãe e pelo recém-nascido.
Contudo, nos países com poucos recursos, as mães muitas vezes dão à luz em casa e raramente visitam postos de saúde. Por isso, o problema consiste em levar o medicamento para a mãe e o bebê e assegurar que sejam tomados no momento certo e na dose correta.
Há alguns anos, profissionais de saúde de diversos países africanos tiveram uma ideia: a gestante que visitasse o posto de saúde pela primeira vez deveria realizar exames de HIV. Se o resultado fosse positivo, ela deve receber os medicamentos que, em pouco tempo, ela e o bebê irão precisar – já que é provável que ela não retorne ao posto.
Os funcionários das clínicas passaram a embalar medicamentos antirretrovirais – comprimidos para as mães e na forma líquida para os bebês – em sacos de papel com instruções de como utilizá-los. Assim nasceu o chamado pacote mãe-bebê.
Quando se descobre que a gestante é soropositiva, dois fatores são levados em conta. O primeiro é o fato de que todas gestantes infectadas precisam de um tratamento de prevenção para evitar que os bebês contraiam o vírus. Em segundo lugar, independente da gravidez, as mulheres com contagem de CD4 igual ou menor do que 350 células por milímetro quadrado precisam do tratamento para HIV. (As células CD4 são um tipo de glóbulo branco que indica o grau de imunossupressão causado pelo HIV).
As embalagens originais continham nevirapina. Agora, os médicos sabem que essa substância não é eficaz para evitar a transmissão da mãe para o bebê.
Por isso, com o auxílio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Fundo Global para o Combate à Aids, Tuberculose e Malária, o governo de Lesoto – país onde 23 por cento da população é portadora do vírus – começou a testar os novos pacotes, disponíveis em três versões.
Se mãe for portadora do vírus e sua contagem de CD4 for maior do que 350, ela recebe o pacote mãe-bebê com o antirretroviral AZT – com a prescrição de iniciar o tratamento na 14ª semana de gestação_ e nevirapina para o bebê – para ser ministrada a partir do nascimento até a sexta semana de vida.
Para as mães com contagem de CD4 igual ou inferior a 350, o pacote inclui o mesmo medicamento para o bebê e modo de administração e um tratamento para a mãe composto de três, algumas vezes quatro, drogas antirretrovirais. O terceiro pacote é para as mães que não são soropositivas e contém apenas suplementos alimentares. Todos os pacotes vêm com um panfleto escrito em sesoto, o idioma local, e um código de cores indica quais medicamentos devem ser tomados e quando. O pacote também inclui fotos para as pessoas que não sabem ler. Desde janeiro, mais de 14 mil pacotes foram distribuídos.
Alguns especialistas têm dúvidas quanto à eficácia dos pacotes e outros temem que eles sejam mais nocivos do que benéficos. Por exemplo, as chances de retorno da mãe para o acompanhamento pré-natal podem diminuir uma vez que ela possui medicamentos para mais sete meses de tratamento.
Contudo, o uso inapropriado da medicação pode ser ainda mais perigoso, podendo levar ao surgimento de cepas resistentes do HIV – que são difíceis ou impossíveis de tratar. Além disso, algumas mães talvez não queiram ser vistas com o pacote, devido ao estigma associado à infecção por HIV.
''Iremos avaliar o programa em breve e poderemos reagir ao impacto gerado de forma objetiva’', afirmou a Dra. Mpolai M. Moteetee, diretora geral de serviços de saúde de Lesoto. Em seguida, será possível saber ''o grau de aceitação do pacote, a capacidade das mães de usar o medicamento adequadamente e se ele está ajudando na realização do tratamento correto’', afirmou.
O Unicef é a organização fornecedora das caixas do programa piloto de Lesoto e afirma não estar pronto para defender seu uso generalizado. Jimmy Kolker, ex-diretor dos programas de HIV do Unicef, que se aposentou em agosto, está observando e esperando.
''Nós não temos o resultado’', afirma. ''Porém, trata-se de um programa oficial de governo e temos todas as razões para acreditar que irá funcionar’', afirma.
The New York Times